Controlados e domesticados os problemas internos (sempre graças à lei da força), o Presidente angolano, general João Lourenço, mostrou-se hoje confiante na estabilização da República Centro-Africana e do norte de Moçambique, num discurso sobre os vários conflitos do continente na cimeira da União Africana (UA).
Na sua intervenção, o chefe de Estado angolano falou sobre vários conflitos, salientando que alguns estão mais perto da sua resolução, como é o caso de Moçambique, cuja província mais a norte, Cabo Delgado, tem sido palco de ataques terroristas de extremistas islâmicos, uma situação que só começou a ser resolvida com a intervenção de forças africanas, incluindo um grande contingente do Ruanda.
“O panorama actual em Moçambique é consideravelmente mais tranquilo e estável, por força da pronta reacção da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, na sigla inglesa), que accionou imediatamente e com os resultados positivos que hoje conhecemos a Força Conjunta em Estado de Alerta da SADC, que actua em coordenação com as Forças Armadas Moçambicanas”, disse João Lourenço.
Moçambique, afirmou, tem sido “confrontada com acções violentas em grande escala, desencadeadas por grupos armados extremistas, com o objectivo de impor os seus ideais pela força, retardando assim as perspectivas de desenvolvimento deste país da África Austral”.
Já sobre a República Centro-Africana, país que tem estado mergulhado numa guerra civil e que conta com militares portugueses destacados na força internacional, o Presidente angolano salientou o papel de Luanda na tentativa de pacificação mais recente.
“Levámos a cabo um conjunto de iniciativas, no sentido de, entre outros, convencer as lideranças dos vários grupos armados que actuam no país, a abandonarem a rebelião e a estabelecerem residência fora do território centro-africano”, explicou.
Os “esforços regionais conduziram à adopção do Roteiro Conjunto para a Paz na RCA, mais conhecido por Roteiro de Luanda, que definiu alguns eixos de actividade, dos quais destaco o cessar-fogo e o desarmamento, desmobilização, reintegração e repatriamento, que ajudaram no seu conjunto a criar um clima de maior distensão e compreensão” entre as partes.
Por isso, defendeu o general João Lourenço, “a situação actual na RCA, importa reconhecer-se, é bastante melhor do que a que se registava no ano de 2020”, elogiando ainda os primeiros sinais do entendimento alcançado entre a Etiópia e a Frente Popular de Libertação do Povo Tigray e os “progressos satisfatórios” no Sudão do Sul e no Sudão.
Estas notícias devem “animar-nos a prosseguirmos todos os esforços possíveis com vista a consolidarmos os processos de pacificação que se vão desenrolando de forma bastante positiva” nalgumas zonas, disse o chefe de Estado angolano, que abordou também a questão da pirataria do Golfo da Guiné e a violência no Sahel.
João Lourenço recordou (num típico auto-elogio tão característico do MPLA) que na última cimeira extraordinária da UA, subordinada aos temas Terrorismo e Mudanças Inconstitucionais em África, foi designado “campeão da União Africana para a paz e reconciliação nacional”, mas advertiu que essa tarefa só poderá ser realizada com êxito se existir empenho de todas as partes.
Sobre os processos de transição no Chade, Guiné e Burkina Faso, países que têm governos saídos de golpes de Estado, o chefe de Estado angolano disse que “os vários actores políticos dos respectivos países têm procurado demonstrar cada vez mais a sua vontade e capacidade de ultrapassar as divergências existentes entre as diferentes partes envolvidas, com vista a uma saída negociada da crise e ao regresso à normalidade democrática”.
No caso do Mali e da Líbia, ainda persistem “diferenças bastante marcantes entre os principais actores envolvidos no esforço de busca de soluções para os problemas que enfrentam, concluiu ainda João Lourenço, que preferiu focar o seu discurso noutros territórios que não o leste da República Democrática do Congo, cuja situação de instabilidade Luanda tem mediado e que foi objecto de encontros multilaterais à margem do encontro magno da UA, em Adis Abeba.
A mini-cimeira sobre a Paz e a Segurança na Região de Leste da RDCongo juntou na mesma mesa, entre outros, os presidentes congolês, Félix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame, dois chefes de Estado que se têm responsabilizado mutuamente pelo conflito.
Na declaração conjunta, os países “reiteraram a necessidade de promover o diálogo político interno e diplomático para encontrar uma solução duradoura à crise de segurança em toda a região lestes” da RDCongo.
Folha 8 com Lusa